quinta-feira, 22 de junho de 2017

Sabes...?




Sabes porque me assusta a morte?
Porque deixaste pedaços de ti dispersos, nas gavetas, nos papéis, nas cartas guardadas, nos bonecos que decoram a casa, nos barros que trazes da infância, nos postais com letras várias e emoções antigas, nos santos bordados a renda com estórias por contar.

Como um puzzle a que faltam peças, todos são bocados incompletos de ti. Não pertencem aos que ficam, não lhes dizem da tua vida mais do que a imagem obscura do silêncio que transportam.

Não são também facilmente descartáveis, são, antes, um problema que te sobrevive, uma outra morte desconfortada e adiada até ao amanhecer de um outro dia que se quer limpo.



segunda-feira, 5 de junho de 2017

Sê inteiro






Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
...

Miguel Torga, Diário XIII