terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Caixa de correio





Meu amor na despedida
Nem uma fala me deu
Deitou os olhos ao chão
Ficou a chorar mais eu.
Demos as mãos na certeza
De que as dávamos amando,
mas, ai! aquela tristeza
Que há sempre neste "até quando?"
....


....
                              (das Canções de António Botto)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Van Gogh


Um homem e uma mulher. Dois gráficos.
A distância, espaço tempo, por dentro, adentro de mim.
Parede, muro branco, regresso onde me perco, por dentro, só dentro de mim.
A música, sentimento entre a palavra e o silêncio, por dentro, de dentro do tempo.
Dois gráficos, dois espaços, dois tempos, por dentro da casa, da parede, do muro, por dentro  de dentro.
Movimento, momento, soluço e grito, de dentro, por dentro de mim.
O nada por nada dito, por dentro, de dentro, no encontro de ti.
Van Gogh, seara de vento, por dentro, adentro de mim.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Ao pôr do sol




Às vezes o amor recusa-se a escrever, como a caneta que eu, agora, pousei.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O Ernesto e os malmequeres



Voltámos a encontrar o Ernesto. Sozinho, de novo, o que leva a crer que continua a não poder ver uma burra de saias. Mas para minha alegria, o Ernesto insiste em perder-se por um ramo de malmequeres...


Penso que o Ernesto, para além de comer flores,  lê romances de amor e faz poesia nas horas vagas.


Carlos e a lezíria


Nesse dia o Carlos iria estar com o "melhor dos meus maiores amigos, o Frederico", não havia animal que o distraísse, nem flores que o chamassem. Resolveu dormir na traseira do carro e, com um gesto de mão alçada, dizer-me que o deixasse em paz.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Maria


            Escute, 
            conhece o Zé Sapateiro?
            vim pr´aqui há 20 anos
            não tomava nada pr´acalmar
                  ...
            ao pé da quinta, com criação,
            campos verdes, queijo fresco,,,

            Escute,
            e a Fernanda do nervoso?
            é do seu tempo...
            tenho lá 3 relógios a arranjar
            meu, do meu marido e do meu filho...
            esta cidade é que mo estraga!
            dantes,
            era o tempo do tamanho da loucura.
            o meu homem e eu, dias grandes,
            a fruta madura à mão solta!

            Escute,
            e o ti Zé Broas? não conhece?
            onde mora? não, não é porque queira saber,
            se vivesse ao pé de mim, podíamos conhecer-nos ...
            já estou habituada, agora só passo...
            estou de passagem!
            venho aqui buscar comprimidos
            sabe, quero dormir, 
            há tanto barulho nesta cidade...

           O sol vermelho lembra-me dos amigos, 
           da sardinha dividida
           no pão da tarde!
           falam pr´aí de esperança.
           estou velha e triste
           precisada de acreditar...

                                                     Escute,
                                                     mas...onde mora?
                                                     eu chamo-me Maria!
M.M.

domingo, 7 de dezembro de 2014

A propósito dos poetas

Encantar-te-ás com os poetas até conheceres um.
Com calças de poeta, camisa de poeta e casaco de poeta,
os poetas dirigem-se ao supermercado.

As pessoas que estão sozinhas telefonam muitas vezes,
por isso os poetas telefonam muitas vezes.
Querem falar de artigos de jornal, fotografias ou de postais.

Nunca dês demasiado a um poeta, arrepender-te-ás.
São sempre os últimos a encontrar estacionamento
para o carro, mas quando chove não se molham.

Passam entre as gotas da chuva. Não por serem
mágicos, ou serem magros, mas por serem parvos.
A falta de sentido prático dos poetas não tem graça.

                                                                                                      José Luís Peixoto in Gaveta de Papéis